sexta-feira, 5 de julho de 2013

POR UMA POLÍTICA DESPORTIVA PARA MULHERES

Jean Gaspar

Como parte integrante da cultura de um povo, o esporte é um espelho da própria sociedade, refletindo e refratando seus valores. A passagem do Dia Internacional da Mulher, em 8 de março, configura-se como uma oportunidade para nos debruçarmos sobre as muitas questões que ainda afligem as mulheres. Aqui, proponho refletirmos sobre um aspecto: a situação das mulheres e o desporto.


Na Grécia antiga, berço dos Jogos Olímpicos, não havia espaço para as mulheres. O mesmo aconteceu quando foram retomados na Era Moderna: nenhuma mulher participou da Olimpíada da Grécia, em 1896, quando 311 homens de 13 países disputaram 42 provas em nove modalidades. 

A primeira participação feminina foi em 1900, ainda de forma oficiosa, em desportos de exibição, como golfe e tênis, julgados como os mais adequados ao sexo feminino, porém marginais ao quadro olímpico. A primeira participação oficial aconteceu em 1908, com vela e patinagem artística. Os Jogos Olímpicos contribuíram para que a competição desportiva fosse considerada um ato viril por excelência. Foi preciso muita luta para que as mulheres conseguissem incluir, pouco a pouco, serem incluídas no programa olímpico. Foi só em 2000, nos Jogos de Sidney, é que o salto com vara passou a ser disputado por mulheres. 

É neste contexto que se desenha a participação das mulheres nas práticas esportivas e principalmente nas Olimpíadas. Esse é o caso da nadadora Maria Lenk, primeira mulher brasileira e da América Latina a participar das Olimpíadas em 1932 em Los Angeles.

De lá para cá, a presença feminina vem crescendo. Nos últimos Jogos Olímpicos, em Londres, no ano passado, do total de 17 medalhas conquistadas pela delegação brasileira, seis foram de mulheres: no vôlei de quadra, no vôlei de praia, com Juliana e Larissa, duas no Judô, com Sarah Menezes e Mayra Aguiar, uma no boxe, com Adriana Araújo, e uma no pentatlo moderno, com Yane Marquês. Essas vitórias em diversas modalidades refletem o avanço da participação das mulheres em todas as esferas esportivas. E não apenas nas Olimpíadas. 

Mas ainda há muito o que se caminhar para ultrapassar barreiras e estereótipos. As disciplinas desportivas devem ser para ambos os sexos, promovendo sua prática nas escolas, em caráter pedagógico. Afinal, o esporte é um espaço de liberdade e de emancipação. É um espaço no qual se joga a representação de identidades sexuais, em que modelos de virilidade e feminilidade são reproduzidos, mas também transgredidos. A prática esportiva materializa, simultaneamente, valores como a igualdade e a liberdade.

A participação de meninas e mulheres no desporto passa, portanto, uma questão de políticas públicas, embasadas na busca de equidade de gênero. É preciso garantir igualdade efetiva de acesso ao esporte na escola, de recreação e de alta competição. No desporto de alto rendimento, cabe também a igualdade de direito a proventos e subsídios, condições de assistência e treino, acompanhamento médico, acesso a competições, proteção social e formação profissional. 

O processo de inclusão e engajamento das mulheres em competições nacionais e internacionais, embora tenha avançado nos últimos anos, ainda carece de um olhar mais atento, que promova e valorize nossas atletas. 

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