Jean Gaspar
A comemoração do Dia dos Pais acontece em praticamente o
mundo todo, ainda que em cada país seja celebrado em diferentes ocasiões.
Embora o dia se resuma, muitas vezes, apenas a um momento oportuno
para o comércio, proponho aqui resgatarmos o sentido original atribuído à data
– a importância do pai na formação das futuras gerações – e como, em termos de
sociedade, podemos melhorar essa relação.
Para iniciar, recorro ao filósofo francês Jean-Jacques
Rousseau, que diz, em seu célebre tratado “Emílio, ou Da Educação” (1762):
"Um pai, quando gera e sustenta filhos, só realiza com isso um terço de
sua tarefa. Ele deve homens à sua espécie, deve à sociedade homens sociáveis,
deve cidadãos ao Estado. Todo homem que pode pagar essa dívida tríplice e não
paga é culpado, e talvez ainda mais culpado quando só paga pela metade. Quem
não pode cumprir os deveres de pai não tem direito de tornar-se pai. Não há
pobreza, trabalhos nem respeito humano que o dispensem de sustentar seus filhos
e de educá-los ele próprio". Pois bem, se educar é uma arte, os pais devem
tornar-se excelentes artistas apresentando à sociedade seres humanos sociáveis.
Vale, portanto, discutir o papel e a função de ser pai. O
papel do pai está mais voltado para as expectativas sociais, culturais e morais
de como ele deve se comportar em relação à sua família e a seu filho. Nesse
sentido, ele deve ser um provedor material, de educação, saúde etc. Do ponto de
vista legal, há inclusive uma lei, que permite aos filhos processarem seus pais
por falta de amparo. Porém, esses aspectos são relativos ao papel do pai, é o
que se espera que o pai desempenhe. A função do pai diz mais respeito à
formação emocional e da personalidade da criança.
O pai vai surgir como um exemplo em muitos aspectos para o
filho. O pai é aquele que deve estimular a criança a sair do vínculo simbiótico
com a mãe, induzindo-a a ir se desligando da mãe e se introduzindo na
sociedade. A tendência natural da criança é estar grudada com a mãe o tempo
todo, ser o centro das atenções e ter a mãe como objeto de seu controle. O pai
será aquela pessoa que vai colocar a criança no convívio com a sociedade e vai
fazer com que ela aprenda a dividir esse amor pela mãe com outras pessoas. A
criança, primeiro, vai aprender a dividir essa atenção dentro do ambiente
familiar, depois na escola, com a sua turma na adolescência, com seu grupo de
trabalho na idade adulta, e vai destituindo seus amores primitivos por outros.
A função do pai é formar uma criança que saberá dividir e lidar com seus desejos,
assim ela conseguirá conviver em sociedade de forma mais harmônica.
Se educar é uma arte, os pais devem se tornar excelentes
artistas apresentando à sociedade seres humanos sociáveis.
Nos últimos anos, avanços significativos foram instituídos
nas relações familiares em relação à proteção de pais e filhos separados: a
regulamentação da guarda compartilhada, a abrangência da discussão acerca da
alienação parental, o projeto de lei que garante participação de pais separados
na vida escolar do filho são exemplos positivos e que vêm ao encontro do
momento atual. Isso demonstra que o poder público pode, sim, interferir
positivamente na vida privada das pessoas.
Exemplo significativo é a legislação na Suécia, onde há a
licença parental (para igualar os direitos de pais e mães, não chamam de
licença maternidade ou paternidade). Trata-se do esforço do Estado em
proporcionar à criança os cuidados de pai e mãe. Para os suecos, o período
oferecido é de 480 dias (pagamento de 80% do salário em 390 dias e um valor fixo
para os demais), divididos entre mãe e pai. A licença parental pode ser usada
até os oito anos da criança (sendo que a mãe deve tirar 14 dias e o pai 10 no
período do nascimento), mas geralmente os pais usufruem do benefício ainda na
primeira infância do filho.
Na Islândia, a licença remunerada é de nove meses (três para
a mãe, três para o pai e mais três repartidos entre eles). Na Dinamarca, a
licença é mais curta: para a mãe, quatro semanas antes do nascimento do bebê e
mais 14 semanas depois, e ao pai, duas semanas neste período. Depois, mais 32
semanas, divididas entre eles. Há ainda direito a outras licenças, como, por
exemplo, se o filho adoecer.
O resultado prático é que os pais estão tendo a oportunidade
para ficarem mais próximos de seus filhos.
Enquanto ainda não temos por aqui leis que garantam esse
maior convívio entre pais e filhos, algumas atitudes simples fazem toda a
diferença nesse relacionamento e podem ser adotadas desde já. A atenção ao dia
a dia dos filhos é uma delas e se manifesta em pequenos comportamentos, como
saber os nomes dos amigos, dos programas prediletos, dos brinquedos favoritos e
mostrar interesse, como olhar nos olhos, baixar o som da TV ou deixar o que
está fazendo, quando o filho o procurar.
Passa também por manter o bom humor, especialmente com os jovens, que
respeitam muito menos quem está de mal com a vida. Levar os filhos ao local de
trabalho é outra forma de integrá-lo a sua vida e ensina o filho o que é
trabalhar. É também importante reservar um momento do dia e, especialmente do
fim de semana, para que haja lazer com filhos, nem que seja apenas assistir a
um filme, jogar no computador ou brincar num parque.
Que este Dia dos Pais seja uma oportunidade para uma
autorreflexão e revisão de atitudes pessoais, bem como para pensarmos nos
caminhos legais para ampliar a presença dos pais na família.
Aproveito, ainda, para agradecer a meu pai, por me tornar um
cidadão, e a minha esposa Patricia, por me presentear com a Carol, pois é com
ela que tenho o valioso prazer de ouvir todos os dias a palavra PAPAI.
Feliz Dia dos Pais a todos.
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