sexta-feira, 30 de agosto de 2013

“MENS SANA IN CORPORE SANO”

Jean Gaspar

A citação em latim é bem conhecida e significa “uma mente sã em corpo são”. Derivada da Sátira X do poeta romano Juvenal, a frase é parte da resposta do autor à questão sobre o que as pessoas deveriam desejar na vida. Sua intenção era lembrar aos cidadãos romanos que numa oração deveriam pedir saúde física e espiritual.

Atualmente, o significado que damos a esta frase é que um corpo são proporciona ou sustenta uma mente sã e vice-versa. Ela expressa o conceito de coerência entre mente e corpo como sendo o equilíbrio saudável no nosso estilo de vida. É esse o papel do profissional de Educação Física, que ajuda na manutenção da saúde e da qualidade de vida.

No Brasil, comemora-se em 1º de setembro o Dia do Profissional de Educação Física. Isso porque nesta data, em 1998, foi promulgada a Lei 9696/98, que regulamenta a profissão no país e cria os conselhos federal e estaduais de Educação Física, resultado de uma luta iniciada nos anos 1940. Foram muitos os obstáculos vencidos, até que o poder público brasileiro reconhecesse a importância da regulamentação da profissão e de seu papel na sociedade.

Hoje são mais de 70 mil profissionais em todo o país. A valorização de uma vida mais saudável, da beleza de um corpo bem cuidado e dos diversos espetáculos esportivos levou ao aumento da demanda por profissionais da Educação Física, cuja atividade vai muito além do trabalho na rede escolar.

O profissional de Educação Física precisa gostar de ensinar e lidar com pessoas. 

O profissional de Educação Física pode atuar em vários campos, entre eles, educação, saúde, esporte, lazer e empresas. Só o mercado de atividade física movimenta mais de R$ 2 bilhões em negócios no Brasil. São pelo menos 1,5 milhão de frequentadores de academias e 3,5 milhões de adeptos de caminhadas e exercícios em casa. Temos, ainda, a perspectiva de megaeventos, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, que serão realizadas no país, onde os profissionais serão os grandes protagonistas.

Sem dúvida, as escolas públicas e particulares continuam apresentando uma grande demanda por professores de Educação Física. Mas o profissional pode atuar também na organização e administração esportiva, em academias, clubes, clínicas, acampamentos, empresas, hotéis, hospitais, postos de saúde ou como personal training, para desenvolver programas exclusivos, de acordo com os objetivos físicos peculiares de cada indivíduo atendido.

Um trabalho específico dos professores de educação física é quanto à obesidade infantil, assunto polêmico, mundialmente estudado, em razão do aumento do número de crianças acima do peso. Esse tema tem sido muito debatido, pois as crianças têm apresentado uma alimentação inadequada, à base de sanduíches, frituras, refrigerantes e gorduras hidrogenadas, podendo gerar problemas sérios para sua saúde. O mesmo vale para adultos. O esporte bem orientado ajuda a combater vários males, como obesidade, problemas cardiovasculares, osteoporose, e até mesmo depressão.

A formação deste profissional exige não apenas o gosto pela prática esportiva, mas também a vontade e o conhecimento necessários para ensinar e lidar com pessoas. O perfil desejável reúne ainda características como o interesse por conhecimentos ligados a manifestações físicas, psicológicas e socioculturais.

Nesse 1º de setembro de 2013, meus sinceros parabéns a todos os profissionais de Educação Física, pela importância de sua intervenção ao bem da sociedade, bem como sua enorme responsabilidade com a formação das futuras gerações.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

PRINCÍPIOS PARA PROTEÇÃO À INFÂNCIA

Jean Gaspar

No Brasil, há um dia dedicado às crianças - 12 de outubro - ocasião em que são presenteadas. Mas, diferentemente do Dia da Criança, que é pura diversão, o Dia da Infância, celebrado em 24 de agosto, tem o propósito de fazer refletir sobre as condições sociais, econômicas e educacionais em que as crianças vivem.

É um momento para resgatarmos seus direitos, refletindo sobre valores e atitudes fundamentais para a formação da criança, que começa a construir seus princípios éticos e morais, a partir dos primeiros anos de vida.

A infância é o tempo de aprender sobre a vida. É tempo de amar e ser amado, de aprender a confiar, ser verdadeiro e festejar a vida com alegria. Por isso, as crianças precisam de pessoas que possam respeitar, de adultos cujos exemplos e amorosa autoridade possam seguir. Precisam de espaço e tempo para observar, brincar e experimentar sua curiosidade e criatividade, ao mesmo tempo em que tenham limites que as protejam.

Há dois grupos de adultos que inserem a criança na sociedade. O primeiro é a família, com os pais e, em segundo plano, mas não menos importante, os tios e avós, que mostram, por meio de suas atitudes, carinhosas ou não, gestos cordiais ou brutos, educados ou grosseiros, como conviver com o mundo. O outro grupo é o escolar. No momento em que a criança sai do reduto familiar, já com algumas maneiras de se comportar no mundo, ela irá assimilar, com o professor e agentes escolares, novos hábitos que irá incorporar no seu repertório de convivência. Por isso, a importância desses grupos ao tratar da infância. São eles que dão o molde aos nossos futuros adultos viverem em sociedade.

Em 1959, a ONU promulgou a Declaração dos Direitos da Criança, adaptada da Declaração Universal dos Direitos Humanos. São dez princípios  que devem ser respeitados por todos para que as crianças possam viver dignamente. 

Sucintamente, as crianças têm direito à igualdade, sem distinção de raça, religião ou nacionalidade; à especial proteção para o seu desenvolvimento físico, mental e social; a ter um nome e uma nacionalidade; à alimentação, moradia e assistência médica adequadas para crescer e se desenvolver em boa saúde; à educação e a cuidados especiais quando física ou mentalmente deficiente; ao amor e à compreensão por parte dos pais e da sociedade, para o desenvolvimento pleno e harmonioso de sua personalidade; à educação que lhe proporcione cultura geral e lhe ofereça condições de igualdade de oportunidades, e também ao lazer infantil; a ser socorrida – com proteção e auxílio – em primeiro lugar, em caso de catástrofes; a ser protegida contra o abandono e a exploração, contra a sujeição ao trabalho e contra qualquer tipo de crueldade.

Em 1989, o Unicef, órgão das Nações Unidas em prol da infância, ampliou ainda mais o rol de direitos, com a aprovação da Convenção sobre os Direitos da Criança, que inclui temas como venda de crianças, prostituição infantil e pornografia infantil, dentre outros. No Brasil, avançamos muito com a instituição do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em 1990. Mas ainda há muito a se fazer, em especial em termos de governança.

Todos os aspectos da governança podem afetar os direitos da criança. Sejam as decisões relacionadas a impostos ou comércio, diplomacia ou dívida externa, não há políticas, leis, orçamentos, programas ou planos que sejam “neutros em relação à criança”. Portanto, o primeiro desafio para os Estados é avaliar as implicações de uma ampla gama de ações legislativas e administrativas para a criança. O segundo é garantir que orçamentos, políticas e programas apliquem os princípios da Convenção em todos os seus aspectos.

As decisões sobre orçamentos e programas, em especial, devem dar prioridade a serviços que sejam essenciais para cumprir o direito da criança à sobrevivência, ao desenvolvimento, à proteção e à participação, como recomenda o Unicef. Esses esforços precisam utilizar e coordenar recursos dos setores público e privado, acompanhando os direitos da criança nas comunidades.

O grande desafio para os próximos anos será unir a responsabilização governamental e a responsabilidade social e individual. Para tornar a Convenção dos Direitos da Criança uma realidade, é preciso que ela se torne de fato uma diretriz para todos os seres humanos, afinal são as crianças que construirão o futuro da humanidade.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

POR UMA ATITUDE FILOSÓFICA NO COTIDIANO

Jean Gaspar

Antônio Gramsci (1891 - 1937)
Dentre tantas datas comemorativas, uma se destaca nesta semana, ainda que seja pouco conhecida pela maioria das pessoas. No dia 16 de agosto, celebra-se no Brasil o Dia do Filósofo, uma oportunidade para refletirmos sobre o papel da filosofia no nosso cotidiano e como qualquer cidadão comum pode ter uma atitude filosófica em seu dia a dia.

O filósofo é aquele que se dedica a questionar e a refletir sobre política, ética, religião, tempo e sociedade. É um livre pensador, que está acima das paixões e busca pensar a própria vida. Por isso, o senso comum muitas vezes o vê como um excêntrico, distante do cotidiano. Ledo engano. O filósofo é aquele que exerce em plenitude a capacidade humana de usar a razão para representar o mundo e a vida concreta nele inserida. Ou seja, todo ser humano é um filósofo em potencial.

A palavra filosofia vem do grego "filos" (amor ou amigo) e "sofia" (conhecimento, sabedoria, verdade), e é geralmente traduzida como "amigo da sabedoria" ou "amor ao conhecimento". Ela nasceu na Grécia Antiga no século 6 a.C., como um meio de buscar conhecimentos diferentes daqueles apresentados pela mitologia, num tempo onde a religião explicava desde os fenômenos da natureza até os fatos do cotidiano.

Antes do aparecimento da ciência como a temos hoje, a filosofia foi a única forma de conhecimento no mundo durante muitos séculos. Os filósofos tratavam o conhecimento de forma geral e explicavam um pouco sobre tudo. Aristóteles, por exemplo, foi também médico, astrônomo, matemático. Foi só a partir de Galileu Galilei, no século 17, que a filosofia começou a se fragmentar. O conhecimento tornou-se especializado.

Evidentemente que a ciência proporcionou grandes avanços ao ser humano. O problema é que as pessoas se tornaram cada vez mais especialistas, perdendo a dimensão do conhecimento geral, ou seja, alienam-se da realidade. Daí o papel fundamental da atitude filosófica frente à vida: dimensionar as consequências que o próprio avanço científico traz para a sociedade.

O filósofo italiano Antonio Gramsci já dizia que "todos os homens são filósofos". O que isso significa, particularmente neste momento da humanidade em que a ciência predomina como forma de saber e, como valor, “aquilo que é útil, prático e imediato”?
 
Pois bem, ao olharmos apenas o dia de hoje, esquecemo-nos do futuro. Um bom exemplo disso é o que fizemos com os recursos naturais, retirando-os da natureza para suprir "as necessidades imediatas" (de poder e de dinheiro), deixando em segundo plano o futuro da humanidade, pois sem o equilíbrio ecológico não haverá vida. 

                                   Todo ser humano é um filósofo em potencial

Sendo assim, ser filósofo ainda faz sentido - e muito, pois são nos momentos de crise, de conturbação social, de falta de alternativas políticas, de perda dos valores fundamentais à humanidade, é que surge a necessidade de analisar o presente e as práticas cotidianas, de pensar melhor o mundo onde vivemos.

A importância da atitude filosófica está nos atos de avaliar os diversos dogmatismos que assombram o mundo e que são impermeáveis ao diálogo. Está no questionamento das operações ideológicas que manipulam o real. Está no enfrentamento aos fanatismos que cegam. Está no combate às ações destrutivas que colocam em risco de extinção a própria vida no planeta. Esses temas embasam o programa de ação da filosofia, e que pode ser resumido em apenas um: fazer ver a realidade.

Isso significa que a filosofia não é mera contemplação, mas sim atitude. É um modo de se colocar frente à vida, questionando-a permanentemente em todas as suas dimensões.

No mundo globalizado atual, esta postura é essencial. É urgente aprender a conviver com as diferenças e a se praticar o respeito e o convívio civilizado. Mas não podemos ser tolerantes com tudo. É intolerável a injustiça, a miséria, a violência, a degradação ambiental e a corrupção na política, que gera ainda mais desigualdade social.

Esse Dia do Filósofo é um bom pretexto para refletirmos sobre o momento atual e as perspectivas futuras do Brasil, particularmente porque agora vemos, pela primeira vez, a população sair às ruas para se manifestar contra a corrupção, contra a polarização política entre dois partidos. É nessa ocasião de crise que o filósofo aponta para os problemas de forma crítica, para não aceitar como óbvias as verdades estabelecidas.

Esta é, portanto, uma oportunidade para fazer prevalecer a máxima filosófica: voltar nossos olhos e atenção para o real para desvelá-lo. Só enxergando de maneira integral – como o amante do saber – é que podemos empreender uma ação transformadora.

Afinal de contas, podemos todos ser pensadores de nossa sociedade para torná-la mais harmoniosa, equilibrada, justa e igualitária. Esse é o verdadeiro sentido do Dia do Filósofo, uma data que diz respeito a cada um de nós.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

MAIS TEMPO PARA O EXERCÍCIO DA PATERNIDADE



 Jean Gaspar

A comemoração do Dia dos Pais acontece em praticamente o mundo todo, ainda que em cada país seja celebrado em diferentes ocasiões. Embora o dia se resuma, muitas vezes, apenas a um momento oportuno para o comércio, proponho aqui resgatarmos o sentido original atribuído à data – a importância do pai na formação das futuras gerações – e como, em termos de sociedade, podemos melhorar essa relação.

Para iniciar, recorro ao filósofo francês Jean-Jacques Rousseau, que diz, em seu célebre tratado “Emílio, ou Da Educação” (1762): "Um pai, quando gera e sustenta filhos, só realiza com isso um terço de sua tarefa. Ele deve homens à sua espécie, deve à sociedade homens sociáveis, deve cidadãos ao Estado. Todo homem que pode pagar essa dívida tríplice e não paga é culpado, e talvez ainda mais culpado quando só paga pela metade. Quem não pode cumprir os deveres de pai não tem direito de tornar-se pai. Não há pobreza, trabalhos nem respeito humano que o dispensem de sustentar seus filhos e de educá-los ele próprio". Pois bem, se educar é uma arte, os pais devem tornar-se excelentes artistas apresentando à sociedade seres humanos sociáveis.

Vale, portanto, discutir o papel e a função de ser pai. O papel do pai está mais voltado para as expectativas sociais, culturais e morais de como ele deve se comportar em relação à sua família e a seu filho. Nesse sentido, ele deve ser um provedor material, de educação, saúde etc. Do ponto de vista legal, há inclusive uma lei, que permite aos filhos processarem seus pais por falta de amparo. Porém, esses aspectos são relativos ao papel do pai, é o que se espera que o pai desempenhe. A função do pai diz mais respeito à formação emocional e da personalidade da criança.

O pai vai surgir como um exemplo em muitos aspectos para o filho. O pai é aquele que deve estimular a criança a sair do vínculo simbiótico com a mãe, induzindo-a a ir se desligando da mãe e se introduzindo na sociedade. A tendência natural da criança é estar grudada com a mãe o tempo todo, ser o centro das atenções e ter a mãe como objeto de seu controle. O pai será aquela pessoa que vai colocar a criança no convívio com a sociedade e vai fazer com que ela aprenda a dividir esse amor pela mãe com outras pessoas. A criança, primeiro, vai aprender a dividir essa atenção dentro do ambiente familiar, depois na escola, com a sua turma na adolescência, com seu grupo de trabalho na idade adulta, e vai destituindo seus amores primitivos por outros. A função do pai é formar uma criança que saberá dividir e lidar com seus desejos, assim ela conseguirá conviver em sociedade de forma mais harmônica.

Se educar é uma arte, os pais devem se tornar excelentes artistas apresentando à sociedade seres humanos sociáveis.

Nos últimos anos, avanços significativos foram instituídos nas relações familiares em relação à proteção de pais e filhos separados: a regulamentação da guarda compartilhada, a abrangência da discussão acerca da alienação parental, o projeto de lei que garante participação de pais separados na vida escolar do filho são exemplos positivos e que vêm ao encontro do momento atual. Isso demonstra que o poder público pode, sim, interferir positivamente na vida privada das pessoas.

Exemplo significativo é a legislação na Suécia, onde há a licença parental (para igualar os direitos de pais e mães, não chamam de licença maternidade ou paternidade). Trata-se do esforço do Estado em proporcionar à criança os cuidados de pai e mãe. Para os suecos, o período oferecido é de 480 dias (pagamento de 80% do salário em 390 dias e um valor fixo para os demais), divididos entre mãe e pai. A licença parental pode ser usada até os oito anos da criança (sendo que a mãe deve tirar 14 dias e o pai 10 no período do nascimento), mas geralmente os pais usufruem do benefício ainda na primeira infância do filho.

Na Islândia, a licença remunerada é de nove meses (três para a mãe, três para o pai e mais três repartidos entre eles). Na Dinamarca, a licença é mais curta: para a mãe, quatro semanas antes do nascimento do bebê e mais 14 semanas depois, e ao pai, duas semanas neste período. Depois, mais 32 semanas, divididas entre eles. Há ainda direito a outras licenças, como, por exemplo, se o filho adoecer.

O resultado prático é que os pais estão tendo a oportunidade para ficarem mais próximos de seus filhos.

Enquanto ainda não temos por aqui leis que garantam esse maior convívio entre pais e filhos, algumas atitudes simples fazem toda a diferença nesse relacionamento e podem ser adotadas desde já. A atenção ao dia a dia dos filhos é uma delas e se manifesta em pequenos comportamentos, como saber os nomes dos amigos, dos programas prediletos, dos brinquedos favoritos e mostrar interesse, como olhar nos olhos, baixar o som da TV ou deixar o que está fazendo, quando o filho o procurar.  Passa também por manter o bom humor, especialmente com os jovens, que respeitam muito menos quem está de mal com a vida. Levar os filhos ao local de trabalho é outra forma de integrá-lo a sua vida e ensina o filho o que é trabalhar. É também importante reservar um momento do dia e, especialmente do fim de semana, para que haja lazer com filhos, nem que seja apenas assistir a um filme, jogar no computador ou brincar num parque.

Que este Dia dos Pais seja uma oportunidade para uma autorreflexão e revisão de atitudes pessoais, bem como para pensarmos nos caminhos legais para ampliar a presença dos pais na família.

Aproveito, ainda, para agradecer a meu pai, por me tornar um cidadão, e a minha esposa Patricia, por me presentear com a Carol, pois é com ela que tenho o valioso prazer de ouvir todos os dias a palavra PAPAI.

Feliz Dia dos Pais a todos.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

ESPORTE E SAÚDE PÚBLICA DE MÃOS DADAS

Jean Gaspar

Nesta semana, comemora-se o Dia Nacional da Saúde, em homenagem ao nascimento, em 5 de agosto, do médico e sanitarista Osvaldo Cruz, reconhecido pela sua atuação na saúde pública, contra a febre amarela, a peste bubônica e a varíola.

A data reveste-se de importância por nos estimular a refletir sobre a saúde pública no país. Como amplamente difundido na imprensa, o Brasil vive uma situação de contrastes. Há cidades onde há médicos, mas não há estrutura. Outras têm postos novos e equipados, mas nenhum médico. Há muita precariedade a ser vencida. Mas há muito o que pode ser feito, sem grandes investimentos públicos, como, por exemplo, na prevenção por meio do esporte.

A prática esportiva é fundamental para saúde. Quem pratica esporte tem muito menos chances de sofrer problemas como excesso de peso, hipertensão, osteoporose, doenças cardiovasculares, depressão e ansiedade, e até mesmo mal de Alzheimer. Para crianças e adolescentes, há inúmeros benefícios. O esporte, para crianças, aumenta a resistência física, reduz a evolução dos fatores de risco responsáveis por doenças crônicas, desenvolve a habilidade motora e melhora a agilidade e o equilíbrio. Já na adolescência, ao lado dos benefícios físicos, o esporte ajuda – e muito – na melhoria da autoestima, justamente nessa fase marcada pela insegurança com a própria identidade e temores sobre o futuro. Para adultos e idosos, o esporte tem até mesmo um caráter medicinal, pois previne e combate vários males que acometem o ser humano nessa etapa da vida.

Segundo publicado no livro Não é coisa da sua cabeça, sobre doenças da mente, um recente estudo realizado nos Estados Unidos comparou os benefícios de se praticar 45 minutos de atividade aeróbica, como caminhada ou corrida na esteira), três vezes por semana, durante quatro meses, ao efeito do antidepressivo sertralina usado também por 120 dias, no tratamento de homens e mulheres na faixa dos 50 anos que tinham diagnóstico de depressão. A eficácia dos dois métodos foi praticamente a mesma! Isso comprova que a saúde física anda de mãos dadas com a saúde mental. Quem cultiva um físico saudável mantém a mente mais equilibrada.

O esporte tem de ser tratado como questão de política pública.

O esporte tem, portanto, uma dimensão sanitária, tanto biológica como psicológica. Aliada a seu caráter social e educativo, o esporte configura-se como uma importante ferramenta de saúde pública, que contribui para a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos e diminuição do índice de doenças que pesam no orçamento público. Uma nação mais saudável contribui mais para o desenvolvimento do país.

Ao lado de iniciativas como construção de hospitais, formação de profissionais qualificados e saneamento básico, é obrigação do Estado também difundir a cultura esportiva, com iniciativas públicas como a construção de equipamentos e infraestruturas para as diversas modalidades esportivas. Cabe também ao Poder Público a formação de agentes especializados no atendimento a crianças, jovens, adultos e idosos, além de campanhas orientando a população de modo geral sobre a importância do esporte no cotidiano e, sobretudo a preparação dos profissionais, tanto da saúde como das outras áreas que lidam diariamente com a questão da saúde e do bem estar do cidadão, sobre os benefícios do esporte e da sua indicação como forma de prevenção para doenças graves.

O esporte, como fenômeno humano que proporciona muitos ganhos para a sociedade, e que traz inúmeros benefícios para a vida e para a saúde dos indivíduos, em todas as suas dimensões, não pode vestir apenas o manto da profissionalização e da competição para receber investimentos públicos, que nem sempre servem para população.

Mas investindo de forma eficiente, criando oportunidades para que todos pratiquem esporte, estaremos contribuindo para a melhoria da saúde e da qualidade de vida do brasileiro. Por isso, o esporte tem que ser tratado como questão de política pública.

O Dia Nacional da Saúde, além de ser um momento de reflexão sobre ações concretas para combater doenças, deve servir também para ações de prevenção. Como diz o velho ditado, “melhor prevenir do que remediar”. Ou seja, vale investir na massificação do esporte para uma vida saudável.

CONTRA A SUB-REPRESENTAÇÃO DOS PAULISTAS NA CÂMARA DOS DEPUTADOS

Jean Gaspar

Pelo sistema eleitoral que hoje vigora no país, o Poder Legislativo conta com duas casas: o Senado, com três representantes de cada Estado da Federação, e a Câmara dos Deputados, com 513 deputados federais eleitos em número proporcional à população de cada Estado. A Constituição limita esta proporcionalidade ao determinar que cada Estado pode ter o máximo de 70 e o mínimo de oito representantes.

Isso causa distorções na representação, já que o peso dos votos dos Estados com menor população é muito maior do que o dos Estados com mais habitantes. Para que isso não ocorresse, São Paulo, por exemplo, com quase 22% da população total, precisaria ter 22% dos 513 deputados, ou 113 parlamentares, no lugar dos 70 que tem atualmente.

Roraima, por sua vez, com 0,2% da população, teria somente um deputado e não os oito atuais. Nas eleições de 2010, São Paulo precisava de mais de 314 mil votos válidos para eleger um deputado federal, enquanto no Amapá foram necessários apenas 27 mil. Ou ainda: todos os votos válidos de Roraima (222 mil), que tem oito representantes na Câmara, seriam insuficientes para eleger um único parlamentar em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo. Não há, de fato, uma representação efetiva da população de cada Estado na Câmara. Nosso sistema não tem nada, portanto, de proporcional.

Ainda que a matéria seja fundamental para efeito de representatividade da população, a questão da proporcionalidade não está contemplada pela reforma política, uma vez que se trata de matéria constitucional. Assim, a proposta em discussão não resolve um dos mais disparatados problemas do sistema político nacional, que é a sub-representação dos estados mais populosos e a super-representação dos menos populosos: o número de eleitores por deputado no Estado de São Paulo é mais de vinte vezes maior que nos Estados menos populosos.

Nosso sistema eleitoral não tem nada de proporcional.

Afinal, é justamente esse o princípio que predomina na configuração da Câmara dos Deputados: a representação da população. A representação dos Estados se dá no Senado, onde cada um tem três representantes, escolhidos de forma majoritária: são eleitos os candidatos do Estado mais votados.

O sistema proporcional tem proporcionado situações em que o candidato é eleito, não pelo programa de seu partido, mas por uma política construída em torno de seu nome, levando consigo outros candidatos que não necessariamente representam o desejo da população.

O mesmo pode ser dito diante da situação em que um partido político sem expressão e sem estrutura, apoiado apenas em um nome, alcança uma representação no Legislativo que não corresponde ao equilíbrio desejado.

O sistema proporcional também se caracteriza por fomentar uma disputa interna nos partidos. O eleitor, apesar de poder votar na legenda do partido, faz sua escolha direcionada a determinado candidato, somente sendo eleitos os que alcançarem, dentre os companheiros de agremiação, a maior votação. Isso faz com que haja uma depreciação dos partidos políticos, já que a disputa entre os candidatos deixa em segundo plano as linhas programáticas do partido. Os candidatos se preocupam em se apresentar aos eleitores em nome próprio, e não como representantes de uma determinada agremiação com determinado perfil ideológico.

Urge revermos o balanceamento das proporcionalidades, de modo que prevaleça o princípio fundamental da representação democrática: “um homem, um voto”. Fundamental também é que o processo de discussão sobre reforma política conte com a participação efetiva do cidadão, para que sejam adotadas regras mais próximas de uma democracia que seja, de fato, participativa.