quinta-feira, 31 de outubro de 2013

EM DEFESA DA CULTURA NACIONAL

Jean Gaspar

Pouca gente sabe que no dia 31 de outubro comemora-se o Dia do Saci, um dos mais populares personagens do folclore nacional.

A data foi instituída oficialmente no Estado de São Paulo em 2004, e por várias cidades, com objetivo explícito de diminuir a importância crescente que se dava ao Halloween, o tradicional Dia das Bruxas norte-americano. Foi uma iniciativa de entusiastas da cultura brasileira para convidar as pessoas a conhecer e celebrar as criaturas míticas nacionais em vez das estrangeiras. Há projetos de lei para instituir a data no calendário nacional, mas permanecem arquivados. É hora de se retomar a questão.

Em tempos de globalização e de forte interferência da televisão, com uma programação em grande parte estrangeira, acabamos esquecendo nossas próprias origens e tradições. Tão grave como a perda da memória é a valorização crescente do que vem de fora e a consequente desvalorização do que é nosso.

Precisamos resgatar nossas raízes, para mantermos viva nossa própria identidade como povo.

As crianças nascidas nos anos anteriores à era da tecnologia da informação ainda tiveram a oportunidade de vivenciar as brincadeiras do nosso folclore, contos, lendas, músicas que fizeram parte do universo infantil, que por sua vez, refletiam na conduta humana. O problema é que as crianças atualmente não têm a oportunidade de brincar nas ruas. Mas com a ajuda do computador podem rever brincadeiras e músicas que fizeram parte da infância de seus pais e avós. O que falta para aumentar a valorização da cultura popular é unir tecnologia com tradição. Os jogos eletrônicos, por exemplos, poderiam conter brincadeiras populares, como desfrutar uma partida de bola de gude no computador, entre outras.

Precisamos resgatar nossas raízes, para mantermos viva nossa própria identidade como povo.  É triste vermos que a cultura popular é vista por muitos como subcultura. Mas esse cenário pode mudar. Ao poder público cabe desenvolver projetos de políticas culturais que tenham como foco a valorização das manifestações populares, de modo que nossas crianças tenham orgulho do saci, curupira, boitatá, mula sem cabeça e outros incríveis personagens da cultura brasileira.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

A ARTE DE ENSINAR E FORMAR CIDADÃOS PARA O MUNDO

Jean Gaspar

A educação é, sem dúvida, o principal elemento de desenvolvimento humano e social. Mas, de nada adiantam as grandes teorias pedagógicas, o reconhecimento da importância da educação para a construção de uma sociedade mais justa, o investimento público em escolas e equipamentos, se os professores não forem devidamente valorizados e qualificados para suas atividades.

Afinal, é na sala de aula que o ensinar e o aprender se encontram e acontecem. E não só isso. Nesse processo, entram em jogo outras questões ligadas ao crescimento humano dos alunos: além de lidarem com a vida intelectual de seus estudantes, os professores os ensinam a serem mais humanos.

E isso é uma arte que envolve acolher uma criança ou jovem e acompanhar o seu desenvolvimento como ser humano. É conduzi-lo e nutri-lo. É estimulá-lo a descobrir por si só o mundo, os outros e a si próprio. É ajudar a conquistar a felicidade e a dignidade. É incentivá-lo para que se torne uma pessoa comunicativa, livre, responsável, aberta, tolerante, orgulhosa de sua herança cultural e conectada com seu tempo, com senso crítico e moral. 

O educador norte-americano William Arthur Ward aponta a diferença entre o bom professor e o mediano: este expõe e demonstra. Aquele explica e inspira. Fica claro, portanto, que a tarefa do professor não é meramente transmitir informações, mas, sobretudo, formar pessoas confiantes e críticas, com vontade de aprender, engajadas na sociedade e compromissadas com valores humanísticos, como respeito às diferenças, responsabilidade social, cooperação, consciência global e solidariedade.

Por isso, cabe a todos nós, sociedade civil e poder público, respeitarmos, admirarmos e valorizarmos nossos professores. Isso significa que é urgente investir na formação, remuneração e motivação de nossos docentes, para que se sintam prestigiados socialmente. Como explica o filósofo e educador Gabriel Perissé, “a docência tem de se tornar uma carreira promissora, e não uma carreira promissória... em que as promessas redundam em novas dívidas que nunca se pagam”. Isso pressupõe salários dignos, para que os professores possam exercer sua profissão com dignidade. Essa deve ser nossa prioridade. Só assim estaremos mostrando de fato às gerações mais novas o valor desse nobre ofício e o quanto aprender é um bem valioso a todos nós.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

EDUCAÇÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA: POSSIBILIDADES E DESAFIOS


Jean Gaspar

Segundo dados do Censo de 2010, o Brasil possui atualmente mais de 45 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência, o que representa quase 24% da população. Deste total, mais de 13 milhões são deficientes físicos. Uma minoria que supera a população de países como Portugal, Bélgica, Israel, bem como os nórdicos, como Suécia, Dinamarca, Finlândia e Noruega. 

Temos, portanto, um país dentro de um continente e que merece a devida atenção e respeito. Muito se avançou nos últimos anos, com políticas públicas voltadas ao acesso à educação, à inclusão social, à acessibilidade e à atenção à saúde. Mas a realidade ainda está longe de ser a ideal. Por isso, nesta semana em que se celebra no Brasil o Dia do Deficiente Físico, voltamos nosso olhar para as reais condições existentes, de modo a lançar luzes para as ações prementes, em especial no que se refere ao acesso à educação. 

Um dos principais desafios da educação é justamente tornar a escola acolhedora das diferenças de seus alunos e alunas. Isso porque a instituição escolar foi tradicionalmente voltada aos públicos que correspondiam a um padrão de normalidade. Daí que transformá-la em uma instituição inclusiva ou aberta às diferenças implica rever o próprio conceito da escola frente à diversidade e repensar a formação de professores para essa nova realidade. Significa reavaliar o próprio papel da educação escolar na sociedade. 

A escola inclusiva está afinada com os direitos humanos, pois respeita e valoriza todos os alunos, cada um com suas características individuais. Ela acolhe e se modifica para garantir que os direitos de todos sejam respeitados. Não se trata de uma moda passageira, mas sim do resultado de estudos e discussões em todo o mundo, que enxerga a educação como lugar para o exercício da cidadania. 

A inclusão exige um processo de mudança e de reestruturação das escolas como um todo, de modo a assegurar que todos os alunos tenham acesso a todas as oportunidades educacionais e sociais que a escola oferece, incluindo o esporte, o lazer e a recreação, ao mesmo tempo em que impede a segregação e o isolamento. Isso significa mudar o sistema educacional, até então focado no ajustamento do aluno às demandas escolares, a sua integração, que significa apenas o preparo e adaptação do aluno à escola. Um modelo fundamentado numa política de inclusão vai além da integração e envolve a remoção dos obstáculos que impedem a participação das pessoas com deficiência na vida em sociedade. 

Não basta pôr a criança na escola. É preciso criar mecanismos de união entre escola, família e sociedade. Ao poder público, cabe investir na materialidade das escolas, na formação dos professores para que atuem profissionalmente com a criança, integrando-a na sociedade como cidadão e na valorização dessa atividade. 

Há muitos desafios a serem superados. Em termos econômicos, é evidente que a escola inclusiva tem um custo mais elevado, até porque a estrutura física da escola precisa ser adaptada. Mas o investimento que hoje é feito em clínicas e escolas especiais pode ser revertido para o processo de inclusão. 

Também é necessário preparar o professor para lidar com o aluno deficiente, bem como no âmbito pedagógico é preciso rever todo o sistema escolar, envolvendo a questão do currículo e da avaliação. Enfim, são muitos os desafios e questionamentos ainda sem respostas prontas, mas que se colocam como imperativos para uma sociedade que busca a equidade de oportunidades e direitos para todos.

O importante é pensarmos na inclusão não como um fim em si, mas como um processo do qual todos nós somos partícipes e responsáveis. Só assim mães e pais podem se sentir verdadeiramente apoiados para desempenharem seus papéis de educadores, que nada mais é que cuidar de todos os membros de suas famílias.  Assim eles terão garantidas a valorização e a aceitação das diferenças de seus filhos.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

POLÍTICAS PÚBLICAS E AÇÕES EM PROL DO IDOSO



Jean Gaspar

O Brasil está mais velho. Assistimos nas últimas décadas a uma drástica mudança no perfil da população brasileira. E isso está acontecendo em nível mundial. Com a queda nas taxas de natalidade e os avanços científicos na medicina, a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que, por volta de 2025, haverá mais idosos do que crianças no planeta. O organismo das Nações Unidas considera o período de 1975 a 2025 como a “Era do Envelhecimento”.

Este acelerado processo de mudança demográfica está repercutindo em todos os aspectos da vida social, particularmente porque muda a cultura de valorização prioritária de crianças e jovens.

Nessas circunstâncias em que a população idosa cresce mais do que a infantil, é imperativo olharmos para esse grupo etário. No Brasil, desde 1999 comemora-se o Dia Nacional do Idoso, estabelecido pela Comissão de Educação do Senado Federal como momento para refletir a respeito da situação do idoso no país, seus direitos e dificuldades. Até 2006, a data era celebrada no dia 27 de setembro, mas como o Estatuto do Idoso foi criado em 1º de outubro de 2003, foi transferida para esse dia.

Esta semana, portanto, é oportuna para voltarmos nosso olhar para a terceira idade. Afinal, o mundo hoje está pronto para os jovens, porque outros jovens – que hoje estão na velhice – o prepararam para nós. E é para lá que caminhamos, se a vida não for interrompida antecipadamente.

Muito já avançamos no sentido de resgatar o devido respeito. A própria existência de um Estatuto do Idoso já o comprova, bem como a criação de conselhos em nível federal, estadual e municipal. Hoje, em qualquer estabelecimento público há atendimento preferencial aos que têm mais de 60 anos. Mas ainda há muitos direitos previstos no papel que estão longe de tornarem-se realidade. Há demandas específicas e necessidades ainda não atendidas pelas políticas públicas.

Por lei, todos têm direito ao Benefício de Prestação Continuada (BPC), que garante a qualquer pessoa com mais de 65 anos o direito a uma renda básica de um salário mínimo. Entretanto, segundo a pesquisa Idosos no Brasil – Vivências, desafios e expectativas na terceira idade, realizada pelo Sesc e Fundação Perseu Abramo, apenas 1% dos idosos declaram receber o benefício. Mesmo que este número tenha sido ampliado desde a realização da pesquisa, é urgente que sejam adotadas medidas que aprimorem o acesso ao BPC, de modo a garantir sua universalização, especialmente à parcela mais pobre da população, para que possam prover o próprio sustento e participar ativa e dignamente da vida em sociedade.

A sociedade que investe no idoso está construindo os alicerces de seu próprio futuro.

Ainda há muitos mitos e preconceitos a serem vencidos em relação à velhice. A principal percepção dos jovens refere-se à incapacidade, tanto pelas limitações funcionais como psicológicas, passando também pelas desvantagens socioeconômicas e culturais. Vemos então que as políticas públicas estão falhando no cumprimento de dois tópicos do artigo 3º do Estatuto do Idoso: a viabilização de formas alternativas de participação, ocupação e convívio com as demais gerações e o estabelecimento de mecanismos que favoreçam a divulgação de informações de caráter educativo sobre os aspectos biopsicossociais de envelhecimento. O poder público precisa incluir em sua pauta a educação de jovens sobre o envelhecimento, pois somente por meio da troca de experiências, saberes e expectativas entre gerações será possível superar o preconceito e a superação, garantindo os direitos das pessoas mais velhas ao envelhecimento ativo.

Outra tarefa premente é a divulgação do Estatuto do Idoso entre os próprios idosos. A pesquisa citada indica que 27% deles nunca ouviram falar a seu respeito. E é justamente a parcela mais carente da população, tanto em termos econômicos como escolares – e que mais se beneficiaria de seus benefícios – que o desconhece.

A violência contra o idoso ainda é alarmante. 36% dos pesquisados revelaram já ter sofrido violências como ofensas, ironias, humilhações e menosprezo, tanto no âmbito público como no ambiente familiar. Nossa sociedade é omissa em relação ao tema.

Na saúde, acessibilidade e educação, a carência também é enorme. Falta uma política pública de saúde do idoso. Falta um pensar a organização territorial das cidades para assegurar a inclusão do idoso, assim como dos portadores de necessidades especiais. Na educação, faltam ações dirigidas especificamente a essa faixa etária, pois é sabido que o menor nível de escolaridade reflete nos cuidados com a saúde, na empregabilidade e renda, na convivência intergeracional. E aí entra especialmente o acesso às novas tecnologias, cuja falta de domínio amplia ainda mais o fosso, causando exclusão social.

O descumprimento do Estatuto do Idoso também acontece em seu artigo 20: “O idoso tem direito a educação, cultura, esporte, lazer, diversões, espetáculos, produtos e serviços que respeitem sua peculiar condição de idade.” Na maioria dos municípios brasileiros, as opções são praticamente inexistentes.
O Poder Público pode e deve mudar esse cenário, fortalecendo o município como local privilegiado para as ações de inclusão e proteção do idoso. Cabe-lhe também prover recursos para tanto, bem como promover na sociedade a conscientização das demandas do processo de envelhecimento, mobilizando a opinião pública. E, sem dúvida, envolver o próprio idoso na discussão e formulação de políticas públicas, como lhe assegura o Estatuto.
 
Nesse Dia Nacional do Idoso, esperamos que nossos governantes comprometam-se com políticas que contemplem as necessidades e direitos já previstos em lei. A sociedade que investe no idoso de hoje está construindo os alicerces de seu próprio futuro, baseado na dignidade, liberdade e convivência social.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

O TEATRO PARA ALÉM DA REPRESENTAÇÃO DA VIDA

 Jean Gaspar

No Brasil, comemora-se o Dia do Teatro em 19 de setembro. Internacionalmente, a data escolhida pelo Instituto Internacional de Teatro, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, é 27 de março.  O importante é a oportunidade de refletirmos sobre o papel das artes do espetáculo para a cultura e para a cidadania.

Em relação à sua origem, não se sabe exatamente quando o teatro surgiu. Mas certamente é uma das mais antigas formas de arte. Segundo estudiosos, no princípio, era uma manifestação de questões cotidianas, um rito de celebração e agradecimento. Tinha também um caráter de exorcização de maus espíritos.

Sua popularização se deu na Grécia Antiga e tinha o intuito de representar lendas e mitos relacionados a heróis e deuses. Foi quando surgiu a comédia e a tragédia clássicas que se popularizaram até os dias de hoje. Naquela época, os atores representavam usando máscaras e, muitas vezes, havia cenário no local da apresentação.

Sêneca, um dos mais célebres advogados, escritores e intelectuais do Império Romano, romanizou as personagens trágicas e deu-lhes a formação filosófica e retórica de seus contemporâneos. Shakespeare levou ao teatro inglês as manifestações humanas mais profundas, mantendo na tragédia o conflito que termina em catástrofe, além de criar os mais influentes personagens de toda história e é considerado um dos maiores escritores de todos os tempos. Suas obras são carregadas de reflexões e permanecem tão relevantes quanto na época em que foram escritas.

Não só no Ocidente o teatro se faz presente. Outras civilizações antigas, como as do Egito, Índia, Japão, Coréia e China também se manifestavam por meio de representações em seus templos e encenavam com a finalidade religiosa de exaltar divindades de sua mitologia.

Apesar de diferentes características dessas representações de cada povo, o papel era o mesmo: expressar sentimentos do ser humano frente à vida. O homem sempre teve a necessidade de representar suas tristezas, angústias e alegrias. Ao ver uma peça, o espectador sente o mesmo que o personagem, assim expurgando esses sentimentos. A isso damos o nome de catarse, ou seja, o meio no qual o homem purifica sua alma por meio da representação trágica.

A palavra "teatro" deriva dos verbos gregos "ver, enxergar", lugar de ver, ver o mundo, se ver no mundo, se perceber, perceber o outro e a sua relação com o outro. Na realização de cenas dramáticas destaca-se o exercício de fazer de conta, fingir, imaginar ser outro, criar situações imaginárias, etc. São atitudes essencialmente dramáticas criadas pelo homem para desenvolver habilidades, capacidades e provir sua existência.

Atuamos todos os dias, em casa, na escola, no trabalho, assumimos papeis sociais constantemente em nossas vidas, como o de pai, mãe, filho, aluno, professor, de acordo com o ambiente. Somos personagens sociais reais. A atuação é o meio pelo qual nos relacionamos com o outro. O processo dramático é considerado um dos mais vitais para os seres humanos. O teatro estimula o indivíduo no seu desenvolvimento mental e psicológico. É também instrução, mas considerar isso como a essência teatral corresponde a desconhecer suas múltiplas manifestações.

O teatro essencialmente tem uma função estética. Aristóteles, o primeiro a analisar e explicitar a composição narrativa, inicialmente nas tragédias gregas, desenvolveu o conceito de mimesis, deixando claro que a imitação e, não apenas a ação, é uma das paixões que movem o homem, modificando o entendimento da função de catarse que, por meio da identificação com a trama e seus personagens, o espectador seria capaz simplesmente de expressar seus sentimentos. Dessa perspectiva, o teatro permite que a plateia repense seu estar no mundo.

Dada a sua importância social, as artes cênicas merecem atenção de nossos governantes e legisladores. A sociedade brasileira deve ser incluída na formulação das políticas públicas para as artes cênicas, musicais e visuais.

Vimos, nos últimos anos, grandes avanços na área, como a reforma da Lei Rouanet, com o reconhecimento da responsabilidade do Estado para com a Cultura, que se deve traduzir em muitas ações estruturantes, mas, principalmente, no investimento de recursos próprios de seu orçamento para o financiamento da área.

Comemoramos a previsão do deslocamento da base desse investimento que se concentrava exclusivamente no incentivo fiscal (mecenato) para o fomento direto (fundo orçamentário regido por editais), por meio de um Fundo Nacional de Cultura mais robusto e criterioso. Além da comemoração pela criação, em março deste ano, no Congresso Nacional, de uma Comissão para cuidar exclusivamente de Cultura, desvinculada da Educação.

Mas ainda há muito o que se realizar para estimular a produção cultural nacional e local. Na Assembleia Legislativa de São Paulo, entretanto, há uma única comissão permanente para as duas áreas. A cultura acaba ficando espremida frente à densa pauta da educação. Precisamos de uma Frente Parlamentar de Cultura, a exemplo do Distrito Federal, que deu origem a uma comissão de cultura permanente. A cultura merece ter um patamar legislativo em São Paulo.

Que nossos legisladores coloquem-se acima das disputas partidárias e voltem seus olhos e atenções, nesse Dia Nacional do Teatro, à necessidade do estabelecimento de diretrizes e metas culturais para o Brasil em todas as esferas: federal, estadual e municipal. O setor cultural precisa sair do plano do supérfluo e ganhar a importância que lhe é devida.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

ALFABETIZAÇÃO, LETRAMENTO E POLÍTICAS PÚBLICAS

Jean Gaspar

A capacidade de ler e escrever e de utilizar a leitura e a escrita nas diferentes situações do cotidiano são, sem dúvida, necessidades inquestionáveis tanto em termos individuais, para o pleno exercício da cidadania, quanto em termos sociais e políticos, para o desenvolvimento da sociedade.
 
Dada a sua importância, a Organização das Nações Unidas instituiu o dia 8 de setembro como o Dia Mundial da Alfabetização, com o objetivo de combater o analfabetismo e as consequentes desigualdades de um mundo globalizado. A promoção da alfabetização deve ser uma luta constante, tendo em vista conquistas como a paz, a erradicação da pobreza e a democratização.
 
É um dever do Estado garantir o acesso de todos os cidadãos ao direito de aprender a ler e a escrever, pois este é uma das formas de inclusão social, cultural e política e de construção da democracia.
 
Apesar da redução no número de analfabetos, o Brasil ainda está longe de poder comemorar neste 8 de setembro. O Indicador do Alfabetismo Funcional (Inaf) 2011-2012, divulgado em julho do ano passado, mostrava que, embora a escolaridade média do brasileiro tenha melhorado nos últimos anos, a inclusão no sistema de ensino não representou aumento significativo nos níveis gerais de alfabetização da população. São quase 13 milhões de pessoas analfabetas, segundo o relatório de 2012 da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), organizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) com base em dados de 2011. O Brasil tem uma dívida com sua população.

É dever do Estado garantir o acesso de todos os cidadãos ao direito de aprender a ler e a escrever.

E não basta combatermos o analfabetismo apenas em termos quantitativos. Temos um enorme déficit qualitativo a enfrentar. Afinal, a sociedade moderna exige mais do que entender as letras do alfabeto. É preciso também fazer uso do ler e do escrever para responder às exigências contínuas que a sociedade nos impõe. Como propõe o educador brasileiro Paulo Freire, “a alfabetização é mais, muito mais, que ler e escrever. É a habilidade de ler o mundo, é a habilidade de continuar aprendendo e é a chave da porta do conhecimento”.
 
Vem daí a criação, nos anos 1980, no Brasil, do termo “letramento”, para dar conta da ampliação do sentido de alfabetização, como um conhecimento em construção. Ainda que não haja uma definição única e unânime de seu sentido, é possível pensarmos numa síntese. Nas sociedades letradas contemporâneas, a leitura e a escrita são bens culturais cujo acesso deve ser propiciado aos indivíduos, bem como a sua participação efetiva. Ler é um processo que envolve também a construção da interpretação de textos, assim como escrever implica a capacidade de comunicar-se adequadamente com um leitor em potencial: é um processo de expressão de ideias e de organização do pensamento sob a forma escrita.
 
Somente o fato de uma pessoa ser alfabetizada não garante que ela seja letrada. Também não significa que ser alfabetizada e letrada garanta o pleno exercício da cidadania. Mas, sem dúvida, há uma forte correlação entre letramento, alfabetização, escolarização e educação.
 
A leitura e a escrita são habilidades individuais, mas que precisam ser ensinadas e aprendidas. Nesse sentido, a escola é o local privilegiado, ainda que não exclusivo, para aquisição desse conhecimento. Indicadores como Inaf têm buscado identificar habilidades de letramento, relacionando o grau de instrução com os níveis de letramento.
 
Na história da educação brasileira, houve um tempo em que não saber ler e escrever era considerado como uma ignorância particular. Mas hoje se percebe que essa falta é reconhecida como uma necessidade social e política prioritária, com a decorrente demanda por um projeto de educação escolar e de ensino-aprendizagem da leitura e da escrita. Logo, o letramento pode ser tomado como um importante eixo articulador de todo o currículo da educação básica.
 
O momento, portanto, é oportuno para demandarmos aos poderes públicos a adoção de políticas que considerem o letramento e a educação escolar como conceitos e práticas relacionadas e complementares entre si, para avançarmos na conquista de direitos humanos básicos e que devem ser igualmente acessíveis a todos os brasileiros, para o pleno exercício da cidadania.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

“MENS SANA IN CORPORE SANO”

Jean Gaspar

A citação em latim é bem conhecida e significa “uma mente sã em corpo são”. Derivada da Sátira X do poeta romano Juvenal, a frase é parte da resposta do autor à questão sobre o que as pessoas deveriam desejar na vida. Sua intenção era lembrar aos cidadãos romanos que numa oração deveriam pedir saúde física e espiritual.

Atualmente, o significado que damos a esta frase é que um corpo são proporciona ou sustenta uma mente sã e vice-versa. Ela expressa o conceito de coerência entre mente e corpo como sendo o equilíbrio saudável no nosso estilo de vida. É esse o papel do profissional de Educação Física, que ajuda na manutenção da saúde e da qualidade de vida.

No Brasil, comemora-se em 1º de setembro o Dia do Profissional de Educação Física. Isso porque nesta data, em 1998, foi promulgada a Lei 9696/98, que regulamenta a profissão no país e cria os conselhos federal e estaduais de Educação Física, resultado de uma luta iniciada nos anos 1940. Foram muitos os obstáculos vencidos, até que o poder público brasileiro reconhecesse a importância da regulamentação da profissão e de seu papel na sociedade.

Hoje são mais de 70 mil profissionais em todo o país. A valorização de uma vida mais saudável, da beleza de um corpo bem cuidado e dos diversos espetáculos esportivos levou ao aumento da demanda por profissionais da Educação Física, cuja atividade vai muito além do trabalho na rede escolar.

O profissional de Educação Física precisa gostar de ensinar e lidar com pessoas. 

O profissional de Educação Física pode atuar em vários campos, entre eles, educação, saúde, esporte, lazer e empresas. Só o mercado de atividade física movimenta mais de R$ 2 bilhões em negócios no Brasil. São pelo menos 1,5 milhão de frequentadores de academias e 3,5 milhões de adeptos de caminhadas e exercícios em casa. Temos, ainda, a perspectiva de megaeventos, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, que serão realizadas no país, onde os profissionais serão os grandes protagonistas.

Sem dúvida, as escolas públicas e particulares continuam apresentando uma grande demanda por professores de Educação Física. Mas o profissional pode atuar também na organização e administração esportiva, em academias, clubes, clínicas, acampamentos, empresas, hotéis, hospitais, postos de saúde ou como personal training, para desenvolver programas exclusivos, de acordo com os objetivos físicos peculiares de cada indivíduo atendido.

Um trabalho específico dos professores de educação física é quanto à obesidade infantil, assunto polêmico, mundialmente estudado, em razão do aumento do número de crianças acima do peso. Esse tema tem sido muito debatido, pois as crianças têm apresentado uma alimentação inadequada, à base de sanduíches, frituras, refrigerantes e gorduras hidrogenadas, podendo gerar problemas sérios para sua saúde. O mesmo vale para adultos. O esporte bem orientado ajuda a combater vários males, como obesidade, problemas cardiovasculares, osteoporose, e até mesmo depressão.

A formação deste profissional exige não apenas o gosto pela prática esportiva, mas também a vontade e o conhecimento necessários para ensinar e lidar com pessoas. O perfil desejável reúne ainda características como o interesse por conhecimentos ligados a manifestações físicas, psicológicas e socioculturais.

Nesse 1º de setembro de 2013, meus sinceros parabéns a todos os profissionais de Educação Física, pela importância de sua intervenção ao bem da sociedade, bem como sua enorme responsabilidade com a formação das futuras gerações.